sexta-feira, dezembro 25, 2009

Capítulo I

Já passava das 10h quando o celular, no último volume, tentou despertá-lo. Em vão. Foi ele mesmo que escolheu aquela sirene estridente na tentativa de se enganar, fazendo o despertador soar como uma ligação importante. Era feriado, mas era preciso sair da cama num horário em que o dia ainda pudesse ter algo de produtivo. Ademais, mais tarde, teria dificuldades para dormir, e a noite é um convite à solidão.

Mesmo assim, prolongou sua manhã na cama até que o quarto ficasse quente demais para que se pudesse aproveitar o sono. Antes que os pés tocassem o piso as lembranças e as circunstâncias de sua vida já faziam a cabeça desejar o travesseiro novamente. As próximas 13 ou 15 horas seriam de uma luta mental intensa que só não se igualava a do dia anterior por ser ainda mais dolorosa.

Tudo aquilo que já havia conquistado, batalha por batalha, não bastava. Queria, na verdade, perder-se por completo nesta besteira em que se descobria sua vida. A loucura seria sua epifania. Infelizmente, ela não vinha. Era incapaz de descontrolar sua racionalidade.

Acostumou-se a administrar seus dias em meias-horas que nunca bastavam para cumprir suas tarefas. Naquele feriado não foi diferente. Do alto de sua janela viu que ninguém ficaria estressado com o tráfego naquele dia. O tempo estava bonito, agradável até para uma caminhada. Nos seus primeiros 30 minutos aproveitou um banho que ajudou a organizar o dia e repassar os compromissos. Não eram muitos, afinal, eram festas.

Enquanto se secava ligava o computador para a primeira checagem de mensagens. Ainda sem as vestimentas completas, jogava fora os e-mails desejando um bom feriado sem ao menos lê-los. Orgulhava-se da impecabilidade de sua Caixa de Entrada. As mensagens relavantes estariam automaticamente indicadas por cores pré estabelecidas. Era o único reduto de sua vida no qual percebia-se como uma pessoa organizada.

Alguns e-mails mereceram sua atenção. A maior parte encaminhamentos feitos de uma lista de discussão para outra, numa tentativa imprecisa de compartilhamento de informações. Outros tiveram uma resposta, seja pela distância, tornada sintética nesses tempos, do interlocutor, seja pela graça de quem escreve. Ainda assim, sabia que aquele seria um dia de pouca atividade virtual, e que, portanto, não deveria gerar nenhuma espectativa.

Levantou-se deixando a página do e-mail aberta. Terminou de vestir-se e dirigiu-se à sala do apartamento para encontrar a família.

Marcadores:

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial