sábado, abril 10, 2010

Eu Sou Poeta (E não aprendi a amar)

Dizem que só o próprio poeta conhece o real valor da sua obra. Os outros podem não compreendê-lo, nem agora, nem nunca, porque é só a ele que se vincula o mundo de que ele trata. É impossível para um poeta não colocar-se orgulhoso em defesa de sua obra. Sua defesa e exaltação são o que permitem ao poeta que não seja ele próprio seu primeiro traidor.

Eu, que não posso cantar nem consigo escrever, transformo-me em minha própria obra. Faço de mim poesia que vive e caminha sobre o meu mundo. Sou poético desde que me levanto da cama ao amanhecer até a hora em que pra ela retorno ao final da noite. Expiro versos no ar. Cada passo que dou não está isolado de qualquer outro próximo, construindo não apenas um caminho, mas uma composição que se hamoniza apenas com a minha passagem.

Ao meu corpo nada resta se não a alternativa de tornar-se instrumento poético. Sou papel e caneta manchando aquilo que toco, olho e faço sentir com minhas palavras. É meu dever, e única salvação, defender-me orgulhosamente ao mesmo tempo em que me faço projetar sobre esse mundo que é meu. Minha obra prima impressa em mim mesmo é o que me faz poeta, errante, amador e sonhador, mas ainda existente.

domingo, fevereiro 14, 2010

Por que o céu é azul?

A história, das revoluções às nossas vidas pessoais, é o modo como decidimos contar e significar a sequência de fatos ocorridos no passado na construção e justificativa de valores para o presente.

Antes que você, leitor, desista de ler este texto pela chatisse e abstração do parágrafo anterior, aviso que, apesar do começo amplo e conceitual, não vou tratar de teorias, sociedades ou especificamente do modo capitalista de produção nas palavras que se seguem.

Busco, apenas, compreender de que maneira é escrita uma história de amor sem vencedores. Preciso olhar pra trás conclusimamente no limiar para que isso se torne uma tragédia, daquelas bem gregas.

De que maneira foi que acabou o nosso amor? Para o bem do meu presente, minha história futura e de futuros amores, sou eu que decido como foi, agora. Mas vamos ao dilema...

Minha primeira opção é metafísica. Fomos feitos um para o outro. A alma de um pode completar o corpo do outro. A forma do amor poderia ser considerada a nossa quando perdíamo-nos entre nós mesmos. No entanto, essa forma não tem condições de subsistir no espaço-tempo em que nos encontramos. O tempo é diminuto e o espaço saturado. Essa equação impõe momentos históricos diferentes no mesmo caminho nos separando não pela morte do que sentimos senão pela impossibilidade de alimentar o que exige algo diferente do que a relação espaço-tempo pode nos oferecer.

Essa, que soa como minha alternativa preferida, me faz acreditar no amor, em tudo que fomos nós e na certeza de que a nossa luta legítima não é, de fato, para que fiquemos juntos, e, sim, para que transformemos o espaço em sua relação com o tempo. Dessa forma, outros grandes amores, quem sabe o nosso, tenham mais condições de se realizar sobre este mundo que temos.

A segunda opção coloca o amor em segundo plano. Não porque não foi isso que existiu entre nós, mas porque justamente aquilo que consideramos ser o maior sentimento de nossas vidas não passa de uma sensação incapaz de despertar ou manter no outro a mesma paixão. Trata-se apenas de algo que não se corresponde, apesar de toda pureza, entrega e dedicação experimentada por uma parte que seja.

É realmente uma pena que seja assim. Uma dor ainda maior que seja eu aquele que profere essas palavras e difundi esta dúvida. Isso diminui consideravelmente as chances de um romance épico. Além do mais, diante disso tudo, valores desejáveis numa relação, das mais simplórias que seja, ficam para trás. De que nos vale a honestidade, a fidelidade e a dor compartilhada se for pra ser assim? Ninguém deverá ser julgado por decisões tomadas depois de tantas e tantas experiências enganosas, nem mesmo em um improvável plano superior...

Cada decisão e cada novo amor que eu tiver, sofrerá as consequências dessa decisão que ainda não tomei em relação a nossa história. Preciso de ajuda. Ou pensar melhor...

[Someday we'll know - New Radicals]

domingo, dezembro 27, 2009

Separô

A série "Não Sou Machado" foi transferida.

Por seu potencial de crescimento, a série virou, em si, um Blog: Não sou Machado, mas posso tentar.

De agora em diante, os novos capítulos serão postados no endereço:

http://naosoumachado.blogspot.com

Desse jeito, reservamos o No Final das Contas para os textos produzidos para a expressão livre. Prometo a mim mesmo que voltarei a produzir os tais textos...

Aproveitem.

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sábado, dezembro 26, 2009

Capítulo II

Era de uma família simples. No mínimo típica onde viviam. Pais de outro Estado, trabalhadores incansáveis, dois filhos e tios e tias espalhados pela região. Eram a construção encarnada da identidade daquela geração metropolitana.

Ao longo de duas décadas, não foram poupados recursos, mesmo que escassos, na criação dos garotos. Era inquestionável a vivência cultural, o entendimento pessimista dos sistemas humanos e a ética transfigurada em moralismos.

Ele não podia se enxergar como um "Lucas Silva e Silva", mas foi criado com todos os modismos de apartamento que acompanharam os Anos 90. Teve a fase do patins, da bicicleta, do skate e do video game, todas tendo como contrapartida as boas notas e a cama arrumada.

Conforme essa dinâmica encontrava suas contradições, não escapava de um novo diagnóstico: Depressão, puberdade e até problemas respiratórios... Tudo devidamente tratado com a ciência médica do final do século XX.

A mãe dividia-se em várias para trabalhar em dobro, como secretária no serviço público e como Dona de Casa com todas as suas responsabilidades. Era uma verdadeira Amélia, mulher de verdade. Com a trajetória que teve, não poderia deixar de ser individualista que só.

O Pai a completava. Era um homem a frente de seu tempo, capaz de enxergar cenários futuros em diversas áreas. A busca de uma vida ética que beirava o civismo atrapalhavam suas qualidades progressistas, mas não foi este o determinante para sua situação. Sua condição material histórica impediu, como a tantos outros, que sua revolução também chegasse.

O irmão era um vetor onde a presença da mãe era mais forte. Era completamente indeciso, incapaz de tomar uma grande decisão sem grande pesar. Apesar disso, estudava para ser engenheiro. Suas necessidades emocionais, nutridas por relações fantasiosas, atrapalhavam sua formação, mas não deixavam de ser legítimas.

Ele entendia que não passava de um resultado daquele grupo. Considerava que felizmente o resultado foi bom. Isso levou a uma ampliação sem precedentes na família da noção de integralidade no todo em que estavam inseridos, bem como a uma percepção de si nesse todo.

Gostava das manhãs de feriados e fins de semana. Quando encontrava a família, era recepcionado com um bom dia e um orlhar de orgulho por parte dos pais. Em seguida, repetia-se um diálogo prazeroso que vinha de anos:

- Você vai querer lanche? - perguntava o pai.
- Sim, claro. - Ele respondia
- De que você vai querer? Aceita suco? - completava a pergunta
- O de sempre.

Em seguida, era servido em frente à Televisão um lanche quente em pão fresco que já caracterizava essas manhãs há anos, ao suco de laranja natural feito na mesma manhã. Por muitos anos não se conformava como era feito aquele suco. Nunca ouviu barulho algum, processador, espremedor, portas, nada.

Foi no dia em que chegou em casa ao amanhecer depois de uma sexta-feira agitada, que viu que as laranjas eram compradas nas primeiras horas da manhã, e o suco preparado a portas fechadas, com cuidado, pra não acordar ninguém.

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sexta-feira, dezembro 25, 2009

Capítulo I

Já passava das 10h quando o celular, no último volume, tentou despertá-lo. Em vão. Foi ele mesmo que escolheu aquela sirene estridente na tentativa de se enganar, fazendo o despertador soar como uma ligação importante. Era feriado, mas era preciso sair da cama num horário em que o dia ainda pudesse ter algo de produtivo. Ademais, mais tarde, teria dificuldades para dormir, e a noite é um convite à solidão.

Mesmo assim, prolongou sua manhã na cama até que o quarto ficasse quente demais para que se pudesse aproveitar o sono. Antes que os pés tocassem o piso as lembranças e as circunstâncias de sua vida já faziam a cabeça desejar o travesseiro novamente. As próximas 13 ou 15 horas seriam de uma luta mental intensa que só não se igualava a do dia anterior por ser ainda mais dolorosa.

Tudo aquilo que já havia conquistado, batalha por batalha, não bastava. Queria, na verdade, perder-se por completo nesta besteira em que se descobria sua vida. A loucura seria sua epifania. Infelizmente, ela não vinha. Era incapaz de descontrolar sua racionalidade.

Acostumou-se a administrar seus dias em meias-horas que nunca bastavam para cumprir suas tarefas. Naquele feriado não foi diferente. Do alto de sua janela viu que ninguém ficaria estressado com o tráfego naquele dia. O tempo estava bonito, agradável até para uma caminhada. Nos seus primeiros 30 minutos aproveitou um banho que ajudou a organizar o dia e repassar os compromissos. Não eram muitos, afinal, eram festas.

Enquanto se secava ligava o computador para a primeira checagem de mensagens. Ainda sem as vestimentas completas, jogava fora os e-mails desejando um bom feriado sem ao menos lê-los. Orgulhava-se da impecabilidade de sua Caixa de Entrada. As mensagens relavantes estariam automaticamente indicadas por cores pré estabelecidas. Era o único reduto de sua vida no qual percebia-se como uma pessoa organizada.

Alguns e-mails mereceram sua atenção. A maior parte encaminhamentos feitos de uma lista de discussão para outra, numa tentativa imprecisa de compartilhamento de informações. Outros tiveram uma resposta, seja pela distância, tornada sintética nesses tempos, do interlocutor, seja pela graça de quem escreve. Ainda assim, sabia que aquele seria um dia de pouca atividade virtual, e que, portanto, não deveria gerar nenhuma espectativa.

Levantou-se deixando a página do e-mail aberta. Terminou de vestir-se e dirigiu-se à sala do apartamento para encontrar a família.

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Não sou Machado, mas posso tentar

Este post aparece para poder justificar uma TAG que estou criando. A TAG vai servir para marcar os textos que serão produzidos daqui pra frente sobre uma mesma estória que se inicia e se referencia na minha história particular.

A idéia era movimentar o blog quase que diariamente, uma tarefa que sempre quis cumprir, mas que nunca tive capacidade (intelectual, eu acho) para cumprir.

Talvez fosse pq sempre tentei fazer de cada post uma obra-prima entre as minhas produções, reservando às implicidades aquilo e aqueles de que tratei.

Já que todo o conteúdo deste blog nunca passou de elementos que gravitavam a minha volta, que se dane, agora escrevo livremente.

O título, por óbvio, inspira-se na música "Não sou Chico, mas posso tentar" do Teatro Mágico. E pq machado? Bem, vários motivos. Meu livro preferido, Dom Casmurro, foi escrito em partes, tendo sido seus curtos capítulos publicados em partes, como será a minha (hi)estória. É o mais fantástico autor brasileiro, e eu tenho mania de grandeza. E eu bem que gostaria que a minha história fosse contada por ele... Essa será, claro, a parte mais comprometida por minhas tentativas.

Aproveitem, se acharem que é possível...

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domingo, setembro 13, 2009

Elas só parecem ir e vir...

Olho hoje para o céu de um jeito diferente do de ontem. De dia, de noite, não procuro constelações, luares ou coloridos de final de tarde. Procuro nuvens. De surpresa, como um raio por elas mesmas descarregados sobre o nosso dia, elas estão lá. No meu imaginário, diante de minha janela, nas minhas fotos.

Pra qualquer lugar que eu tente olhar, são as nuvens que dragam meu olhar. Parecem indiferentes ao fato de me prenderem ao chão do qual estão distantes. Me metem medo ao mesmo tempo que me satisfazem ao encobrir um dia de Sol e lançam sombras, refrescantes sombras, sobre mim.

As nuvens me libertam de Nietzsche e seu Eterno Retorno. O mundo pode até me repetir quantas vezes quiser! Tenho as nuvens! Enquanto as estrelas estão lá, firmes no firmamento, condenadas a serem vistas da mesma forma mesmo depois de mortas, as nuvens modificam-se e, assim, modificam nosso dia.

O que seria do encontro entre o mar e o céu no horizonte não fossem as nuvens para media-los? Um todo azul, blue, que mal seria capaz de revelar numa paisagem uma surpresa não programada para o pôr do Sol.

Se quero, cada vez mais, ir mais alto, mais longe do solo terrestre, é para ficar mais próximo das nuvens. Admirá-las de mais perto, senti-las frias, definir suas formas e, quem sabe, quando são névoas, encher meu peito delas.

terça-feira, agosto 18, 2009

When things have got no meaning

Manhã chuvosa, mas não insisto no guarda-chuva. As ruas não estarão molhadas mais que meu travesseiro ao longo da interminável noite que finda com um nascer do Sol acinzentado.

Minha imaginação se perde onde meu coração prefere estar.

Pela primeira vez, tenho a certeza de ser o ser mais errante caminhando em torno de mim mesmo.