domingo, dezembro 27, 2009

Separô

A série "Não Sou Machado" foi transferida.

Por seu potencial de crescimento, a série virou, em si, um Blog: Não sou Machado, mas posso tentar.

De agora em diante, os novos capítulos serão postados no endereço:

http://naosoumachado.blogspot.com

Desse jeito, reservamos o No Final das Contas para os textos produzidos para a expressão livre. Prometo a mim mesmo que voltarei a produzir os tais textos...

Aproveitem.

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sábado, dezembro 26, 2009

Capítulo II

Era de uma família simples. No mínimo típica onde viviam. Pais de outro Estado, trabalhadores incansáveis, dois filhos e tios e tias espalhados pela região. Eram a construção encarnada da identidade daquela geração metropolitana.

Ao longo de duas décadas, não foram poupados recursos, mesmo que escassos, na criação dos garotos. Era inquestionável a vivência cultural, o entendimento pessimista dos sistemas humanos e a ética transfigurada em moralismos.

Ele não podia se enxergar como um "Lucas Silva e Silva", mas foi criado com todos os modismos de apartamento que acompanharam os Anos 90. Teve a fase do patins, da bicicleta, do skate e do video game, todas tendo como contrapartida as boas notas e a cama arrumada.

Conforme essa dinâmica encontrava suas contradições, não escapava de um novo diagnóstico: Depressão, puberdade e até problemas respiratórios... Tudo devidamente tratado com a ciência médica do final do século XX.

A mãe dividia-se em várias para trabalhar em dobro, como secretária no serviço público e como Dona de Casa com todas as suas responsabilidades. Era uma verdadeira Amélia, mulher de verdade. Com a trajetória que teve, não poderia deixar de ser individualista que só.

O Pai a completava. Era um homem a frente de seu tempo, capaz de enxergar cenários futuros em diversas áreas. A busca de uma vida ética que beirava o civismo atrapalhavam suas qualidades progressistas, mas não foi este o determinante para sua situação. Sua condição material histórica impediu, como a tantos outros, que sua revolução também chegasse.

O irmão era um vetor onde a presença da mãe era mais forte. Era completamente indeciso, incapaz de tomar uma grande decisão sem grande pesar. Apesar disso, estudava para ser engenheiro. Suas necessidades emocionais, nutridas por relações fantasiosas, atrapalhavam sua formação, mas não deixavam de ser legítimas.

Ele entendia que não passava de um resultado daquele grupo. Considerava que felizmente o resultado foi bom. Isso levou a uma ampliação sem precedentes na família da noção de integralidade no todo em que estavam inseridos, bem como a uma percepção de si nesse todo.

Gostava das manhãs de feriados e fins de semana. Quando encontrava a família, era recepcionado com um bom dia e um orlhar de orgulho por parte dos pais. Em seguida, repetia-se um diálogo prazeroso que vinha de anos:

- Você vai querer lanche? - perguntava o pai.
- Sim, claro. - Ele respondia
- De que você vai querer? Aceita suco? - completava a pergunta
- O de sempre.

Em seguida, era servido em frente à Televisão um lanche quente em pão fresco que já caracterizava essas manhãs há anos, ao suco de laranja natural feito na mesma manhã. Por muitos anos não se conformava como era feito aquele suco. Nunca ouviu barulho algum, processador, espremedor, portas, nada.

Foi no dia em que chegou em casa ao amanhecer depois de uma sexta-feira agitada, que viu que as laranjas eram compradas nas primeiras horas da manhã, e o suco preparado a portas fechadas, com cuidado, pra não acordar ninguém.

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sexta-feira, dezembro 25, 2009

Capítulo I

Já passava das 10h quando o celular, no último volume, tentou despertá-lo. Em vão. Foi ele mesmo que escolheu aquela sirene estridente na tentativa de se enganar, fazendo o despertador soar como uma ligação importante. Era feriado, mas era preciso sair da cama num horário em que o dia ainda pudesse ter algo de produtivo. Ademais, mais tarde, teria dificuldades para dormir, e a noite é um convite à solidão.

Mesmo assim, prolongou sua manhã na cama até que o quarto ficasse quente demais para que se pudesse aproveitar o sono. Antes que os pés tocassem o piso as lembranças e as circunstâncias de sua vida já faziam a cabeça desejar o travesseiro novamente. As próximas 13 ou 15 horas seriam de uma luta mental intensa que só não se igualava a do dia anterior por ser ainda mais dolorosa.

Tudo aquilo que já havia conquistado, batalha por batalha, não bastava. Queria, na verdade, perder-se por completo nesta besteira em que se descobria sua vida. A loucura seria sua epifania. Infelizmente, ela não vinha. Era incapaz de descontrolar sua racionalidade.

Acostumou-se a administrar seus dias em meias-horas que nunca bastavam para cumprir suas tarefas. Naquele feriado não foi diferente. Do alto de sua janela viu que ninguém ficaria estressado com o tráfego naquele dia. O tempo estava bonito, agradável até para uma caminhada. Nos seus primeiros 30 minutos aproveitou um banho que ajudou a organizar o dia e repassar os compromissos. Não eram muitos, afinal, eram festas.

Enquanto se secava ligava o computador para a primeira checagem de mensagens. Ainda sem as vestimentas completas, jogava fora os e-mails desejando um bom feriado sem ao menos lê-los. Orgulhava-se da impecabilidade de sua Caixa de Entrada. As mensagens relavantes estariam automaticamente indicadas por cores pré estabelecidas. Era o único reduto de sua vida no qual percebia-se como uma pessoa organizada.

Alguns e-mails mereceram sua atenção. A maior parte encaminhamentos feitos de uma lista de discussão para outra, numa tentativa imprecisa de compartilhamento de informações. Outros tiveram uma resposta, seja pela distância, tornada sintética nesses tempos, do interlocutor, seja pela graça de quem escreve. Ainda assim, sabia que aquele seria um dia de pouca atividade virtual, e que, portanto, não deveria gerar nenhuma espectativa.

Levantou-se deixando a página do e-mail aberta. Terminou de vestir-se e dirigiu-se à sala do apartamento para encontrar a família.

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Não sou Machado, mas posso tentar

Este post aparece para poder justificar uma TAG que estou criando. A TAG vai servir para marcar os textos que serão produzidos daqui pra frente sobre uma mesma estória que se inicia e se referencia na minha história particular.

A idéia era movimentar o blog quase que diariamente, uma tarefa que sempre quis cumprir, mas que nunca tive capacidade (intelectual, eu acho) para cumprir.

Talvez fosse pq sempre tentei fazer de cada post uma obra-prima entre as minhas produções, reservando às implicidades aquilo e aqueles de que tratei.

Já que todo o conteúdo deste blog nunca passou de elementos que gravitavam a minha volta, que se dane, agora escrevo livremente.

O título, por óbvio, inspira-se na música "Não sou Chico, mas posso tentar" do Teatro Mágico. E pq machado? Bem, vários motivos. Meu livro preferido, Dom Casmurro, foi escrito em partes, tendo sido seus curtos capítulos publicados em partes, como será a minha (hi)estória. É o mais fantástico autor brasileiro, e eu tenho mania de grandeza. E eu bem que gostaria que a minha história fosse contada por ele... Essa será, claro, a parte mais comprometida por minhas tentativas.

Aproveitem, se acharem que é possível...

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