domingo, julho 26, 2009

4. Do Método

Viver é algo intrinsicamente perigoso. Delicadezas do nosso dia a dia, de comer a atravessar uma rua, nos expõe a situações que são facilmente desiquilibradas diante do menor dos erros, atrasos ou descuidados.

Por isso, encerrar a própria vida não é tarefa árdua para aqueles que estiverem determinados a tanto. Assim, o modo para se fazê-lo espelha de maneira profunda as características e determinantes que levaram cada um ou cada uma por esse caminho.

A perda de um grande amor, por exemplo, leva ao poético caminho do punhal que rasga o peito, mata o amor e a dor, e apaga o fogo que não se vê.

Uma overdose programada não passa da tentativa de encontrar uma calma absoluta que nunca se alcançou em vida, não diante da indisposição com o mundo, mas ao ter que suportar o peso de cada segundo da história que prevalece.

Minha escolha é, certamente, conservadora. Desintegrar a maior parte das lembranças engavetadas na rede neural é simples para um balaço de chumbo atirado em direção à pesada construção de uma memória carregada de insatisfações.

Outros caminhos levariam a um resultado semelhante. Um mergulho em direção à Terra seria longo o suficiente para se tornar prazeroso tão libertador pode vir a ser. Apesar de soar como minha alternativa preferida, essa se mostra pouco solidária, não refletindo tudo aquilo que passei a acreditar ser necessário para a construção de uma sociedade pós-capitalista que esteja direcionada para toda a humanidade, e, não para o atendimento imediato e não duradouro dos desejos individuais.

É com muito prazer que sei que aquilo que, hoje, biologicamente, me pertence, pode ajudar diversas pessoas que anseiam por escapar dessa fila que escolhi furar. Tenho certeza que, para além disso, é possível trazer, ainda, a significância que me faltou ao caminho dessas pessoas.

Outras medidas também me atraem, mas acabam esbarrando nesses e outros problemas que quero minimizar. É o caso do caminho que chamei sadicamente de "fim da linha". Eu bem que gostaria de tentar, como um personagem de HQs, parar um trem com minhas próprias mãos. Se não desse certo, tudo bem! Eu alcançaria meus resultados de uma forma, ou de outra. Contudo, é muito egoísmo da parte de qualquer um causar tamanho incômodo a centenas, talvez milhares, de pessoas.

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