domingo, agosto 10, 2008

Nostalgia Apressada

Cansou-se de ser um estereótipo de si mesma: Passou a ser o de outro alguém. De outros alguéns. O sonho ainda existia, mas apenas nas poucas horas em que conseguia passar acordada. Não era sua culpa. Sozinhos nossos sonhos perdem-se entre outros. Pensando bem, era culpa sua... Nunca quis companhia para realizá-los.

O que restou estava apenas na lembrança. Na dos outros. A dela apagara-se na esvoaçante esperança. Os livros continuam os mesmos. Sua vida é que se misturara com as páginas normativas de uma conduta alternativa. Na prática, foi ela quem escolheu a trilha sonora de suas noites antes mesmo de iniciar as filmagens de seu roteiro clichê. Passou, então, a soar como os álbuns que repousam em sua estante.

A não-aceitação de verdades impostas tornou-se a fome por novas experiências. A justificativa era simples: instisfação com o status quo. A solução? Matar a fome. Fome? Gula. Pecado? Só se for burguês. Prato caro. Só sendo burguês mesmo... E o status quo? Deixa pra depois... Que o depois lhe chegue mais leve e vagarosamente que a terra...

É simples! Quem poderia perceber tão bonapartista egoísmo? E daí que os beatniks já eram? Ela se contentava em ser uma deturpação de mais esse estereótipo. Não fossem os Estados-Nação e o fim do Comunismo como confirmação da liberdade capitalista talvez até conseguisse!

Certo é que outrem existe hoje como ontem. Recusa-se apenas a despertar do sono em que pode sonhar que a vida que leva não é mais do que resultado das próprias responsabilidades renunciadas em nome da preguiça, do prazer e da pressa de se viver.