Elas só parecem ir e vir...
Olho hoje para o céu de um jeito diferente do de ontem. De dia, de noite, não procuro constelações, luares ou coloridos de final de tarde. Procuro nuvens. De surpresa, como um raio por elas mesmas descarregados sobre o nosso dia, elas estão lá. No meu imaginário, diante de minha janela, nas minhas fotos.
Pra qualquer lugar que eu tente olhar, são as nuvens que dragam meu olhar. Parecem indiferentes ao fato de me prenderem ao chão do qual estão distantes. Me metem medo ao mesmo tempo que me satisfazem ao encobrir um dia de Sol e lançam sombras, refrescantes sombras, sobre mim.
As nuvens me libertam de Nietzsche e seu Eterno Retorno. O mundo pode até me repetir quantas vezes quiser! Tenho as nuvens! Enquanto as estrelas estão lá, firmes no firmamento, condenadas a serem vistas da mesma forma mesmo depois de mortas, as nuvens modificam-se e, assim, modificam nosso dia.
O que seria do encontro entre o mar e o céu no horizonte não fossem as nuvens para media-los? Um todo azul, blue, que mal seria capaz de revelar numa paisagem uma surpresa não programada para o pôr do Sol.
Se quero, cada vez mais, ir mais alto, mais longe do solo terrestre, é para ficar mais próximo das nuvens. Admirá-las de mais perto, senti-las frias, definir suas formas e, quem sabe, quando são névoas, encher meu peito delas.