Eu Sou Poeta (E não aprendi a amar)
Dizem que só o próprio poeta conhece o real valor da sua obra. Os outros podem não compreendê-lo, nem agora, nem nunca, porque é só a ele que se vincula o mundo de que ele trata. É impossível para um poeta não colocar-se orgulhoso em defesa de sua obra. Sua defesa e exaltação são o que permitem ao poeta que não seja ele próprio seu primeiro traidor.
Eu, que não posso cantar nem consigo escrever, transformo-me em minha própria obra. Faço de mim poesia que vive e caminha sobre o meu mundo. Sou poético desde que me levanto da cama ao amanhecer até a hora em que pra ela retorno ao final da noite. Expiro versos no ar. Cada passo que dou não está isolado de qualquer outro próximo, construindo não apenas um caminho, mas uma composição que se hamoniza apenas com a minha passagem.
Ao meu corpo nada resta se não a alternativa de tornar-se instrumento poético. Sou papel e caneta manchando aquilo que toco, olho e faço sentir com minhas palavras. É meu dever, e única salvação, defender-me orgulhosamente ao mesmo tempo em que me faço projetar sobre esse mundo que é meu. Minha obra prima impressa em mim mesmo é o que me faz poeta, errante, amador e sonhador, mas ainda existente.